terça-feira, 18 de maio de 2010

Felicidade e Contentamento

Nem me lembro da última vez que escrevi.

O tempo é curto e há o trabalho, o estudo, o treino para o TAF, de forma que as idéias que surgem ficam esquecidas em algum lugar (ou não-lugar) onde repousam longe de qualquer registro.

Um tema que acho jus de fazer alguma menção é a Felicidade.

É possível ser feliz? O que é a felicidade?

É o desapego pregado por Buda?

É viver em prol de uma ideologia?

A cada dia estou mais certo de que não existe felicidade.

Nem tanto pelo Fator-Schopenhauer, mas pela utopia que a palavra carrega em si mesma.

O Fator-Schopenhauer é o nome mais simples que encontrei para reduzir sua Teoria da Vontade em um só termo. O homem busca incessantemente uma coisa. Com muito ou pouco tempo ele conseguirá essa coisa, se satisfará e irá desejar com todas as suas forças outra coisa. Assim, a primeira coisa perde parte de seu sentido, enquanto a segunda passa a ser foco de sua vida. Em suma, o homem anda em círculos até a sua morte.

Por isso, para Schopenhauer o único modelo de não-sofrimento (que não chega a ser a "felicidade") é o desapego total pregado no budismo.

Além disso, ainda no Fator-Schopenhauer, tem o problema do relacionamento humano, que ele compara a 2 porcos-espinhos. Os porcos-espinhos ficam próximos porque sentem frio, mas logo começam a se espetar e sentem a necessidade de ficar longe. Quando voltam a ficar longe sentem frio e se aproximam novamente até que se espetem e procurem se distanciar. Mais uma vez, vemos o homem andar em círculos, entre a solidão e os defeitos alheios.

Creio que o Fator-Schopenhauer faça sentido, mas não seja o ponto crucial para que não exista a "felicidade".

"Felicidade" não existe simplesmente porque não passa de um conceito criado pela mídia e inserido no senso comum.

O que podemos dizer é que o que se pode chegar mais próximo dessa "felicidade" é o "contentamento".

O desapego não resolverá todos os problemas. Se resolvesse, todos seriam monges.

Mas, o que posso perceber mediante pessoas que considero "felizes" e pela própria observação em geral é que quem se "contenta" com o que possui é, em geral, uma pessoa em paz (ou feliz).

A maioria dos comediantes saem de países emergentes. O Brasil é um dos lugares com mais comediantes no mundo. E o norteste é o lugar com mais comediantes no Brasil. Lembrando rapidamente: Tom Cavalcante, Xico Anísio, Renato Aragão, Tiririca, Adamastor Pitaco...

Em contrapartida, não conheço nenhum comediante suéco ou noruegues. Pelo contrário, esses países "perfeitos" são lugares de pessoas fechadas e tristes em sua maioria, basta ver o estilo musical preferido pela maioria: black metal, com sua melodia agressiva e suas letras depreciativas, depressivas e melancólicas, suas roupas negras, enquanto no Brasil o povo só quer saber de Axé, Pagode e tudo o que "sacuda o esqueleto".

Enquanto a empregada doméstica vai o caminho inteiro sorrindo dentro do ônibus, o executivo de sucesso vai murmurando o caminho todo em seu carro importado.

Em geral, é o que acontece.

Quem é "feliz", é "feliz" sendo operário ou sendo ganhador da mega sena.


Por isso, afirmo categoricamente: "Fatores externos não podem gerar felicidade, no máximo geram alegria temporária."

Felicidade é contentamento. E contentamento pressupõe um "apesar de..."

Sempre tem um "apesar de...".

Por isso, me comovo com quem é infeliz e acredita que um dia "encontrará felicidade".

Contentamento ou se tem, ou não se tem.

Simples assim.

1 comentários:

Rayc disse...

Ler os seus textos é sempre um voo sobre a mediocridade da vida cotidiana, as aparências...

Contentamento é a palavra. A intenção de controlar a "vontade".

A questão musical foi fantástica! Mas, penso que também pode haver outros fatores que influenciam o modo de vida, como a cultura e até mesmo o fato de serem países mais próximos dos polos (menos sol, menor produção de substâncias responsáveis pela sensação de "felicidade").

Como sempre digo, é um prazer lê-lo, meu caro amigo!

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